Os Madredeus cantavam esta música... Esqueco-a sempre que me lembro de virar o rosto ao vento ultra-montano. O de Trás os Montes e o das Beiras.
O vento seco, a anunciar o Outono, o de Setembro. O vento que trás a morte do Verão, o aconchego do Outono. O vento que anuncia as vindimas, que faz guardar os rebanhos. O vento dos dias que ficam curtos.
É nesse vento que eu vôo: de repouso, de fadiga, de abandono.
De descanso: O descanso que antecede uma anunciada ressureicão.
Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário
Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem côr e sem vontade
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
E a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
pra receber daquilo que aumenta o coração
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Restolho, Mafalda Veiga
2 comments:
É isso e mais nada!! Muito bem dito!
ah pois é! :)
E por esta altura era a final dos Jogos Sem Fronteiras... Mais um dado importante a acrescentar a estas reflexões sobre o período que atravessamos.
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