Assalto ao Castelo

Salvaterra do Exttremo - Idanha a Nova - Portugal - Ago. 2005

Tento recomeçar a escrever, mas não consigo. Entre as fragas, debaixo de um sol abrasador que nos queima, devemos procurar refúgios. Se nos precipitamos a subir a montanha por caminhos ingremes, na hora em que o sol está a pique, chegaremos ás paredes do castelo já trespassados.

Em geral, os Castelos Portugueses eram só um refúgio em tempo de guerra, e maioritariamente, de carácter militar. As aldeias em volta continuavam o seu dia-a-dia, sujeitas á primeira onda de invasão, fosse de árabes ou espanhóis.

O verdadeiro abrigo fica cá em baixo. Uma sopa de pedra, uma concha de água, um pedaço de pão duro. Eventualmente, cevada, onde se demolha o pão. Como o meu avô. Se calhar, encontrarei alguém que faça rosquilhas. Um abrigo constante, não apenas de emergência. Onde se produzem alimentos. Onde se criam porcos e galinhas. Onde se varejam as oliveiras. Onde se colhe mel. Onde aprendemos que os coelhos devem ser separados em jaulas diferentes após o nascimento dos felpudos pequenos.

Todo este mundo de campo é o meu. Sempre sonhei com castelos. Sempre pertenci ao quotidiano desprotegido da aldeia. Com poemas simples, com enxertos, com um sorriso a dizer "Eh, campeão!".

É hora de deixar de sonhar... Alguém lá de dentro ordenou que a porta se fechasse, com ferros. De que serve esmagar-me contra paredes sólidas e impenetráveis?


Adenda: Afonso Henriques teve como conquistas mais importantes Santarém e Lisboa. Na primeira utilizou alguma manha. Na segunda foi auxiliado por fortes cavaleiros ingleses para realizar um cerco implacável.

Não me recordo de mais alguma situação em que tenha conseguido ultrapassar fortes inexpugnáveis. As conquistas seguintes foram em terreno aberto.

Adenda II: Afinal, parece que Santarém foi conquistado depois de Lisboa... Isso inverte a ordem: Primeiro houve ajuda exterior, na segunda é que matreiro. O que não nos deve honrar enquanto seus súbditos, suponho. Antes das duas, acho que houve uma batalha denominada de Aljubarrota. Aí alguém estava a lutar pelo Rei. Rezam as crónicas: D. Nuno Álvares Pereira e uma desconhecida Padeira.

Afinal de contas, não há acasos, coincidências ou semelhanças: cada coisa tem o seu momento e lugar devido na história.