novocaína para a alma
Em todos nós há um 'Beautiful Freak'. Todos nós temos um 'Beloved Monster'. O mundo inteiro olha-nos com olhos esbugalhados.
Wednesday, August 10, 2005
Na paragem seguinte
Da Igreja de S. Francisco é só caminhar. Sem lágrimas nos olhos.
Adenda: Não percebia o interesse de alguns quando bajulavam um grupo ou cantor, conhecendo a pequena variação da música no concerto de há 3 ou 4 anos que era especial por ter mais ou menos uma palavra.
Não percebia. Até ouvir "Unchained Melody", cantado por Elvis Presley, ao vivo, em Lincoln, Nebraska, no Pershing Municipal Auditorium, em Junho de 1977. Rodeado por montanhas, pois claro. Três ou quatro pormenores que não são dignos de atenção: são merecedores de toda a nossa reverência perante "the king". E que o tornam imortal... Acredito agora que ele está vivo.
Passo a explicar-me:
Começa sob aplausos. Alguém segura no microfone, enquanto ele está no teclado. Este senhor não acredita no seu ídolo: um desafinar controlado ("Still miiiine"), no ínicio, fá-lo crer que toda a gordura encerrada depois de tanto tempo, sob aquela juba desgrenhada, é mais do que aparência.
Passado menos de 1 minuto, Elvis sorri para o lado... "Lonely rivers flow to the sea, to the sea, to the open arms of the sea. (Sorriso)".
A cara transfigura-se: enche-se, plena, remonta 20 anos, a quando aprendeu a dançar com Forrest Gump. Arranca para os melhor minutos de música que jamais foram cantados. Olha para o "unbeliever", desdenhosamente. Continua, de uma forma tranquila, depois de ter dito ao ergúmeno, num surpreendentemente grato (não percebi porquê), dizendo que nada mais tinha a provar. E transcede-se. Transcede este mundo. Gotas de suor escorriam da testa em direcção ao microfone...
Morreu, sete semanas depois. Acho que compreendeu nesse momento que já nada tinha a fazer entre nós: Aquilo ficou gravado em concerto:
Oh, my love, my darling,
I've hungered for your kiss a long
lonely time. Time, goes by so slowly,
and time can do so much,
Are you still mine?
"The following performance is testimonie to not only the remarkable strenght of Elvis's voice, but the amazing talent that was his, right to the end."
Disclaimer II: A demência pode apoderar-se de nós em qualquer momento... Não, não acredito que o Rei está vivo. Sequer dentro de mim. Mas continuo a vê-lo incessantemente a cantar estas linhas até que eu próprio me transceda.
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